sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ultima parada

Meu nome é Wilton, tenho 27 anos e este é meu relato da noite em que desapareci, se acharem esta carta, favor avisarem para meus pais e minha noiva que eu os amo muito.

Endereço: ***************
Número: 25
Bairro: **********
Cidade: São Paulo - Osasco

Para quem quer que encontre esta carta, fica meu aviso! SAIA DESTE VAGÃO, FUJA O MAIS RÁPIDO E O MAIS LONGE POSSÍVEL, ESSE MALDITO VAGÃO VAI TE LEVAR E TE ATORMENTAR PELA ETERNIDADE E NINGUÉM VIRÁ AO SEU SOCORRO.


Estou deixando esta carta escondida, pois temo que eles possam encontrar e destruir os meus esforços para alertar as pessoas sobre este maldito vagão.


Estou esperando o trem na estação, é tarde da noite e o frio esta insuportável.

Ouço o trem chegando, vagarosamente, é irritante, parece que o condutor faz de proposito.

Ele para, entro no vagão e me sento, mas logo ouço uma vós feminina: "Este trem não prosseguirá viagem, favor desembarcar nesta estação".

Frustrante! Estou a horas esperando este maldito trem e ele vai ser recolhido? Levanto-me e vou em direção a porta para sair, mas repentinamente ela se fecha. Tento abri-la, porem a porta não se move, grito e ninguém aparece.

O trem começa a se mover, me acalmo e me sento, pelo menos aqui estou aquecido e quando chegar (seja lá onde for), explico a situação.

O trem fica rodando e vai para uma parte da linha totalmente deserta, só vejo arvores e mato pelas janelas, até que tudo fica escuro, era como se o trem estivesse em um túnel, comecei a ficar assustado pois não saiamos da escuridão.

O trem já estava a horas nesta escuridão, olho para o celular, afim de ver as horas mas ele não liga, talvez a bateria tenha descarregado, as luzes começam a piscar no vagão. A
gora realmente estou assustado, em um impulso eu aciono o sistema de emergência, mas o trem continua seu caminho.

fico andando de um canto a outro do vagão, as luzes estão piscando freneticamente agora, me sento e abaixo a cabeça tentando raciocinar o que poderia estar acontecendo, foi quando o trem começou a parar.

Fico aliviado, me levanto e vou em direção a porta o mais rápido que pude, mas quando olho para fora só vejo a escuridão. Era como se não tivesse nada do lado de fora, olho para baixo e só vejo mais escuridão interminável.

Eu grito: - Ei! Tem alguém ai? - O som ecoa para todos os lados, ninguém responde.

Me sento novamente, fico tentando entender a tudo aquilo, onde eu estava? O que era este lugar?

Foi quando comecei a ouvir passos, me virei e vi a silhueta de alguém. parecia usar um chapéu tipo daquele vilão chinês do James Bond.

Ele estava sentado no ultimo assento do trem, me levanto e caminho em sua direção, ao chegar perto o suficiente sou acometido pelo horror, era um esqueleto, olho em minha volta e vejo vários outros esqueletos e corpos, todos com roupas de épocas diferentes! Hippies, Punks, pessoas com roupas coloniais... Todo tipo de gente morta amontoada no vagão! Fico desesperado! Vou em direção da porta e ela se fecha rapidamente! Começo a gritar! Chorar! Vasculho os corpos em busca de um celular, porem não acho nada! Pego uma bengala e tento quebrar o vidro da porta, no terceiro golpe a bengala se quebra sem fazer um arranhão ao vidro.

Tento usar o dispositivo de segurança para abrir a porta, o dispositivo não funciona.

Eu agora sei o que vai acontecer comigo! Ficarei preso neste vagão esperando a minha morte, mas antes vou deixar um aviso escondido, uma carta para que as pessoas saibam e tomem cuido ao entrar em um vagão de trem na madrugada, você pode estar indo em direção da ultima parada.


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Trabalho

Estou em minha sala, muito trabalho acumulado se arrasta a meses e mais trabalho vem chegando.
Minha sala é um cubículo fechado, uma pequena janela com vista para um  jardim, uma porta de madeira, prateleiras abarrotadas de caixas nos 3 cantos da sala e um computador.

Hoje a quantidade de documentos que chegam esta fora do comum e o chefe já pediu urgência nos mais antigos. Pego a pilha de papéis que tem o tamanho de uma criança de 10 anos e divido em duas, começo a digitar.

Passa-se horas e a pilha não parece diminuir, pelo jeito terei de fazer hora extra hoje, frustrante perder uma sexta feira para ficar no trabalho.

Ouço um barulho de algo se arrastando.

Paro de digitar, abro a porta para ver se a faxineira esta fazendo a limpeza fora da sala, mas não tem ninguém, fecho a porta e continuo digitando.

Horas se passam e ouço novamente o barulho, percebo que vem do meu lado, olho para a prateleira mas nada esta fora do seu lugar, olho debaixo dela e não ha nada de errado.

Volto a trabalhar.

Um tempo depois ouço novamente o barulho de algo sendo arrastado, me viro e tenho a impressão de que a parede se moveu, é como se a sala estivesse diminuindo, definitivamente andei trabalhando demais! Impossível isto estar acontecendo.

Volto a trabalhar.

Depois de um tempo ouço novamente mas agora é mais alto, olho para a janela da sala e percebo: A janela desapareceu! Na verdade, a parede estava cobrindo a janela. Neste momento me desesperei, tentei abrir a porta porem ela estava trancada, gritei mas ninguém veio ao meu socorro, tentei arrombar a porta mas ela parecia feita de aço, apesar de claramente ser de madeira.

Eu estava preso!

As paredes começaram a diminuir cada vez mais ao ponto das prateleiras se encontrarem. Agora  minha sala devia ter espaço apenas para os documentos, as prateleiras, meus desktop e eu.
Tive de me sentar na cadeira para não ser esmagado pela pilha de papeis e as prateleiras que eram empurrados pelas paredes, algo se enrola em minha cintura e pernas, não consigo me levantar.

Fico desesperado, tento a todo custo me mexer mas estou preso.

Ouço o barulho de mensagem em meu desktop, era meu chefe, tento me comunicar e pedir ajuda mas me vem a seguinte mensagem: "Para melhor adequação nos procedimentos de desempenho da equipe, sua sala foi remodelada, lhe oferecendo maior praticidade para o desenvolvimento do trabalho e concentração nas suas tarefas. Por favor precisamos dos documentos prontos até segunda feira de manhã."

O que nos espreita

O medo é o sentimento mais primordial da humanidade.
Desde o tempo das cavernas a humanidade sente medo, medo da fome, medo de ter fraquezas, o medo de fracassar, mas o maior dos medos é o do desconhecido e nada representa melhor o desconhecido do que a escuridão. A sensação de não saber onde esta, do que há ao redor ou do que esta a espreita.

E se na escuridão houvesse algo mais, um universo diferente, não palpável mas que estivesse ligado com o nosso? O que aconteceria se a escuridão tomasse forma e nos assombrasse de tempos em tempos? E se a escuridão e o medo fossem um só ser?

"A escuridão pode nos pregar peças", meu pai sempre dizia isso, mas hoje acredito que a escuridão é algo mais, algo que nos domina com o medo e se alimenta do nosso desespero, a escuridão nos observa a todo tempo. Quantas vezes não pensamos que vimos algo pelo canto do olho e quando viramos não tem nada? Quantas vezes você não preferiu acender todas as luzes de casa pois o medo do escuro se tornou insuportável? As sombras nos rodeiam a todo tempo, elas nos observa e esperam o momento certo para agir. A noite é deles! Aqueles que dançam na escuridão e se banqueteiam de nossos medos, nos observam com olhos de fogo.

Meu nome é Paulo, e tenho 30 anos e vou lhes falar um pouco do que tenho passado a anos.
A primeira vez que eu vi a criatura da escuridão eu tinha 15 anos, estava deitado em minha cama, assistindo tv. Já era tarde da noite e estava sem sono, foi quando por algum motivo que não me lembro hoje, olhei para a porta do meu quarto, foi quando vi aquela sombra enorme me observando, com olhos como se fossem duas pequenas chamas. Fiquei paralisado com o medo, não conseguia me mexer mesmo sabendo que o podia fazer, mas só fiquei observando aquele ser e ele me observava, depois de alguns minutos o ser se virou para a parede e desapareceu como se tivesse entrado nela.

A partir dai comecei a sentir que era observado a todo tempo. Sabe aquele arrepio na nuca quando você esta sozinho? Era exatamente isso, algo estava me seguindo para onde eu fosse.

Aprendi a conviver com esta sensação.

Passado alguns anos veio a segunda aparição.
Eu estava deitado em minha cama, acordei e percebi que não conseguia me mexer. Não sei que horas eram mas na posição que estava conseguia olhar para baixo e ver minha pernas, foi quando senti algo subindo por elas.
Era um tipo de óleo preto, ele vinha subindo e cobrindo meu corpo, fiquei desesperado, comecei a me debater e aquela coisa subindo até chegar no meu rosto, entrando em minhas narinas e boca. Comecei a me afogar, estava tentando me debater mas por mais força que fazia era como se tivessem me amarrado, então eu desmaiei. Acordei e não tinha nada no meu quarto.

A terceira vez estava chegando em casa do trabalho, preparei minha janta e me sentei no sofá. Tive de me levantar novamente para buscar um copo de suco, quando me sento novamente, do lado da TV estava aquela mesma sombra de quando eu tinha 15 anos, ela ficava me observando e o medo me invadia como se fosse uma faca, entrando pela minha espinha e terminando no meu peito. Fiquei ali parado e assim como da ultima vez, o ser virou para a parede e desapareceu.

Hoje estava dormindo com a minha esposa e ouço o choro do meu filho, levanto e vou ver oque esta acontecendo. Ele tem 3 anos e nunca teve problemas com o escuro, muito pelo contrario, ele até gostava de dormir com as luzes desligadas. Encontro ele de pé no meio do banheiro, pego ele no colo e pergunto o que aconteceu e ele me fala: "A sombra estava me olhando".